O fato mais importante do jogo não foi o título do Atlético nem
a vitória do Cruzeiro, mas a estratégia de jogo utilizada: o Cruzeiro colocou
um jogador entre Roberto Carlos e a bola. Explicarei ao longo do texto.
O Cruzeiro foi melhor no jogo, principalmente no primeiro
tempo, quando fez 2 a 0. E como o Cruzeiro conseguiu ser superior e vencer o
melhor time das Américas? Em primeiro lugar, é bom lembrar que os dois gols do
Cruzeiro foram de pênalti. Pênaltis, ressalte-se, que realmente existiram, mas
foram cometidos por um reserva que não vem bem (Gilberto Silva) e por descuido
(Richarlyson tenta isolar a bola e não percebe a antecipação de Borges). De
novo: ambos foram pênaltis claríssimos, mas cometidos nas condições descritas.
Em segundo lugar, o detalhe estratégico. O Cruzeiro colocou
um homem entre a bola e Roberto Carlos. Ããã, como? Isso mesmo. Na Copa de 1998,
uma das grandes preocupações dos adversários do Brasil eram as cobranças de
falta fortíssimas e com efeito do lateral-esquerdo Roberto Carlos. Para efetuar
as cobranças, Roberto Carlos tomava grande distância, mais de nove metros. Pois
não é que um treinador adversário colocou um jogador entre Roberto Carlos e a
bola em todas as cobranças? Nas cobranças de bola parada, os jogadores
adversários devem ficar a um raio de nove metros da bola. Ou seja, a estratégia
não era irregular e atrapalhou muito Roberto Carlos. Não me lembro do nome da
seleção, nem se outros treinadores fizeram o mesmo, mas acho que sim. Se alguém
se lembrar, coloque aí nos comentários.
O Cruzeiro marcou as saídas de bola e os lançamentos de
Réver, que joga na sobra, e de Víctor, que chuta as bolas para Jô, Bernard e
Tardelli (menos frequente) disputarem com as defesas adversárias. Num desses
lances, inclusive, Borges faz falta em Víctor e leva cartão amarelo. Leandro
Guerreiro colou em Ronaldinho Gaúcho (marcação individual mesmo) e não o deixou
atuar. Pronto, Roberto Carlos não tinha mais espaço para tomar distância e
soltar a bomba. Ou melhor, o Atlético não teve uma de suas principais jogadas:
o lançamento do campo de defesa para Jô fazer o pivô ou para Bernard correr e
ganhar do marcador. O Atlético ficou quase sem alternativa.
Quase, porque Tardelli foi o destaque do Atlético no
primeiro tempo, já que só era marcado por Paulão lá no campo de defesa do
Cruzeiro. Tinha campo para avançar, preparar a jogada, pensar. Egídio fazia o primeiro combate. Ceará anulou
Bernard, com autoridade, pela direita. Sem os chutões, Bernard perde metade de seu poder. É
bom jogador, mas terá que se reinventar quando perder a velocidade.
Paulão foi o destaque do Cruzeiro, a despeito de Dagoberto
ter criado boas oportunidades pela esquerda e feito dois gols de pênalti no
primeiro tempo. No segundo tempo, Dagoberto não foi tão bem e Paulão manteve o
nível. Conseguiu ganhar bolas de cabeça contra Jô (tarefa difícil atualmente) e
no chão de todo o quarteto de ataque do Atlético.
Boa atuação também do lateral-direito Ceará: perfeito nos
desarmes e bem apoio ao ataque. Dagoberto dominou o jogo na primeira etapa.
Veloz pela ponta esquerda, sofreu (e converteu) o primeiro pênalti, tocou bem a
bola e converteu os dois pênaltis marcados.
No segundo tempo, o Atlético voltou mais organizado. Passou
a marcar a saída de bola do Cruzeiro com uma linha de cinco jogadores formada
por Tardelli, Leandro Donizete (dando o bote vindo um pouco mais detrás da
linha), Jô, Ronaldinho Gaúcho e Bernard. Sem a mesma agressividade na marcação
e na troca de posições do primeiro tempo, o Cruzeiro ficou sem penetração. Não
conseguia chegar à área adversária.
Os zagueiros, Réver e Gilberto Silva, começaram a antecipar
e levar vantagem. Gilberto Silva, mal no primeiro tempo, foi bem no segundo.
Marcos Rocha conseguiu apoiar com a cobertura de Leandro Donizete. E...
Ronaldinho ganhou o espaço que não teve no primeiro tempo. Sem a explosão
física de outrora para fugir dos marcadores, Ronaldinho, tal como muitos
veteranos, passou a usar a inteligência e a malandragem para poder aplicar sua
técnica.
A ascensão de Ronaldinho no segundo tempo começou com a
cabeçada que deu em Leandro Guerreiro. Deveria ter sido expulso. Não foi e
irritou o adversário, que até então o marcava duramente, mas na bola. Pois, no
lance seguinte, Leandro Guerreiro fez falta em Ronaldinho e levou amarelo.
Pronto, a partir daquele momento (10 minutos do segundo tempo) a marcação não
foi mais a mesma, Ronaldinho passou a jogar mais livre e o Atlético cresceu
junto.
Do lado do Cruzeiro, Ricardo Goulart não entrou bem no jogo.
Perdeu praticamente todas as bolas que disputou, errou passes, reclamou... foi mal.
Na verdade, todo o quarteto ofensivo do Cruzeiro foi mal no segundo tempo.
Éverton Ribeiro nada fez nos dois tempos (aliás, nos dois jogos); Diego Souza brigou, mas pouco
produziu; Dagoberto, como já dissemos, não repetiu a boa atuação da primeira
etapa; Borges foi o melhor dos quatro, mas levou perigo em apenas um lance.
Nota sobre a arbitragem: Normalmente não comentamos sobre
isso, mas o Leandro Pedro Vuaden faltou à aula sobre cama-de-gato. Quando não
marcou, inverteu. Na confusão durante a expulsão de Luan, viu a briga (com a
participação dos respectivos bancos) e não expulsou ninguém. E o pênalti em
Luan não existiu. Já passou da hora de pararmos de endeusar um árbitro que, a despeito de fazer o jogo fluir, não marca faltas que realmente aconteceram.
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