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Cruzeiro 2 x 1 Atlético. Análise tática. Segundo jogo da final do Campeonato Mineiro 2013. Ou: Como o Cruzeiro colocou um jogador entre Roberto Carlos e a bola

O Atlético é o campeão mineiro 2013. O Cruzeiro venceu o Atlético por 2 a 1, no estádio Mineirão, na segunda partida da final do Campeonato Mineiro 2013. Com o resultado, o Atlético levou o título mineiro de 2013 por ter vencido a primeira partida, quando foi mandante no estádio Independência, por 3 a 0. O esquema tático do Cruzeiro foi o 4-2-3-1. O esquema tático do Atlético Mineiro também foi o 4-2-3-1.

O fato mais importante do jogo não foi o título do Atlético nem a vitória do Cruzeiro, mas a estratégia de jogo utilizada: o Cruzeiro colocou um jogador entre Roberto Carlos e a bola. Explicarei ao longo do texto. 



O Cruzeiro foi melhor no jogo, principalmente no primeiro tempo, quando fez 2 a 0. E como o Cruzeiro conseguiu ser superior e vencer o melhor time das Américas? Em primeiro lugar, é bom lembrar que os dois gols do Cruzeiro foram de pênalti. Pênaltis, ressalte-se, que realmente existiram, mas foram cometidos por um reserva que não vem bem (Gilberto Silva) e por descuido (Richarlyson tenta isolar a bola e não percebe a antecipação de Borges). De novo: ambos foram pênaltis claríssimos, mas cometidos nas condições descritas.

Em segundo lugar, o detalhe estratégico. O Cruzeiro colocou um homem entre a bola e Roberto Carlos. Ããã, como? Isso mesmo. Na Copa de 1998, uma das grandes preocupações dos adversários do Brasil eram as cobranças de falta fortíssimas e com efeito do lateral-esquerdo Roberto Carlos. Para efetuar as cobranças, Roberto Carlos tomava grande distância, mais de nove metros. Pois não é que um treinador adversário colocou um jogador entre Roberto Carlos e a bola em todas as cobranças? Nas cobranças de bola parada, os jogadores adversários devem ficar a um raio de nove metros da bola. Ou seja, a estratégia não era irregular e atrapalhou muito Roberto Carlos. Não me lembro do nome da seleção, nem se outros treinadores fizeram o mesmo, mas acho que sim. Se alguém se lembrar, coloque aí nos comentários.

O Cruzeiro marcou as saídas de bola e os lançamentos de Réver, que joga na sobra, e de Víctor, que chuta as bolas para Jô, Bernard e Tardelli (menos frequente) disputarem com as defesas adversárias. Num desses lances, inclusive, Borges faz falta em Víctor e leva cartão amarelo. Leandro Guerreiro colou em Ronaldinho Gaúcho (marcação individual mesmo) e não o deixou atuar. Pronto, Roberto Carlos não tinha mais espaço para tomar distância e soltar a bomba. Ou melhor, o Atlético não teve uma de suas principais jogadas: o lançamento do campo de defesa para Jô fazer o pivô ou para Bernard correr e ganhar do marcador. O Atlético ficou quase sem alternativa.



Quase, porque Tardelli foi o destaque do Atlético no primeiro tempo, já que só era marcado por Paulão lá no campo de defesa do Cruzeiro. Tinha campo para avançar, preparar a jogada, pensar. Egídio fazia o primeiro combate. Ceará anulou Bernard, com autoridade, pela direita. Sem os chutões, Bernard perde metade de seu poder. É bom jogador, mas terá que se reinventar quando perder a velocidade.

Paulão foi o destaque do Cruzeiro, a despeito de Dagoberto ter criado boas oportunidades pela esquerda e feito dois gols de pênalti no primeiro tempo. No segundo tempo, Dagoberto não foi tão bem e Paulão manteve o nível. Conseguiu ganhar bolas de cabeça contra Jô (tarefa difícil atualmente) e no chão de todo o quarteto de ataque do Atlético.

Boa atuação também do lateral-direito Ceará: perfeito nos desarmes e bem apoio ao ataque. Dagoberto dominou o jogo na primeira etapa. Veloz pela ponta esquerda, sofreu (e converteu) o primeiro pênalti, tocou bem a bola e converteu os dois pênaltis marcados.

No segundo tempo, o Atlético voltou mais organizado. Passou a marcar a saída de bola do Cruzeiro com uma linha de cinco jogadores formada por Tardelli, Leandro Donizete (dando o bote vindo um pouco mais detrás da linha), Jô, Ronaldinho Gaúcho e Bernard. Sem a mesma agressividade na marcação e na troca de posições do primeiro tempo, o Cruzeiro ficou sem penetração. Não conseguia chegar à área adversária.

Os zagueiros, Réver e Gilberto Silva, começaram a antecipar e levar vantagem. Gilberto Silva, mal no primeiro tempo, foi bem no segundo. Marcos Rocha conseguiu apoiar com a cobertura de Leandro Donizete. E... Ronaldinho ganhou o espaço que não teve no primeiro tempo. Sem a explosão física de outrora para fugir dos marcadores, Ronaldinho, tal como muitos veteranos, passou a usar a inteligência e a malandragem para poder aplicar sua técnica.

A ascensão de Ronaldinho no segundo tempo começou com a cabeçada que deu em Leandro Guerreiro. Deveria ter sido expulso. Não foi e irritou o adversário, que até então o marcava duramente, mas na bola. Pois, no lance seguinte, Leandro Guerreiro fez falta em Ronaldinho e levou amarelo. Pronto, a partir daquele momento (10 minutos do segundo tempo) a marcação não foi mais a mesma, Ronaldinho passou a jogar mais livre e o Atlético cresceu junto.

Do lado do Cruzeiro, Ricardo Goulart não entrou bem no jogo. Perdeu praticamente todas as bolas que disputou, errou passes, reclamou... foi mal. Na verdade, todo o quarteto ofensivo do Cruzeiro foi mal no segundo tempo. Éverton Ribeiro nada fez nos dois tempos (aliás, nos dois jogos); Diego Souza brigou, mas pouco produziu; Dagoberto, como já dissemos, não repetiu a boa atuação da primeira etapa; Borges foi o melhor dos quatro, mas levou perigo em apenas um lance.

Nota sobre a arbitragem: Normalmente não comentamos sobre isso, mas o Leandro Pedro Vuaden faltou à aula sobre cama-de-gato. Quando não marcou, inverteu. Na confusão durante a expulsão de Luan, viu a briga (com a participação dos respectivos bancos) e não expulsou ninguém. E o pênalti em Luan não existiu. Já passou da hora de pararmos de endeusar um árbitro que, a despeito de fazer o jogo fluir, não marca faltas que realmente aconteceram.
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