Evidentemente, o erro de Dátolo no jogo da volta contra o
Internacional, que resultou no terceiro gol, fez com que a torcida ficasse
brava com ele. Entretanto, o “marcação” contra Dátolo é anterior a este erro. Analisaremos,
portanto, o desempenho geral do jogador na Copa Libertadores da América.
Jesus Dátolo joga no centro da linha de três meias do
4-2-3-1 do Atlético. Quando Levir resolveu entrar com o time no 4-1-4-1 contra
o Colo Colo na Libertadores, Dátolo é quem fazia a função de segundo volante
quando precisava. A ideia do técnico Levir Culpi foi boa. O Atlético precisava
ganhar o jogo por 2 a 0 e o time, nessa formação, chegaria em bloco na frente
com cinco jogadores decisivos. Na hora do aperto, Dátolo daria uma mão para o
volante Rafael Carioca na marcação do meio campo e faria a saída de bola. Meia-atacante,
Dátolo não foi bem na função, que normalmente não exerce, e a antipatia da
torcida com ele começou ali, embora o Atlético tenha conseguido o placar
desejado e a classificação.
Baseados nas estatísticas do Footstats (www.footstats.net) para os jogos do
Atlético Mineiro na Copa Libertadores, percebemos que os números de Dátolo,
como ressaltou Levir Culpi em recente entrevista, não são ruins. Ou, ao menos,
não são diferentes de diversos ídolos da torcida atleticana.
Estatísticas de jogadores do Atlético
Mineiro na Copa Libertadores 2015
Jogador
|
Gols
|
Passes certos
|
Passes errados
|
Finalizações certas
|
Finalizações erradas
|
Drible certo
|
Falta recebida
|
Perda de bola
|
Dátolo
|
0
|
250
|
25
|
2
|
5
|
4
|
19
|
30
|
Lucas Pratto
|
3
|
71
|
32
|
8
|
10
|
2
|
7
|
33
|
Luan
|
0
|
242
|
65
|
11
|
12
|
6
|
13
|
49
|
Guilherme
|
1
|
40
|
13
|
4
|
3
|
0
|
3
|
5
|
Carlos
|
1
|
67
|
8
|
2
|
3
|
2
|
4
|
22
|
Leandro Donizete
|
0
|
248
|
21
|
0
|
4
|
1
|
5
|
18
|
Rafael Carioca
|
1
|
366
|
38
|
3
|
2
|
2
|
5
|
11
|
Marcos Rocha
|
0
|
96
|
37
|
0
|
2
|
10
|
6
|
16
|
Patric
|
0
|
245
|
17
|
0
|
4
|
2
|
2
|
21
|
Fonte: www.footstats.net Seleção
de dados: www.esquemastaticos.com.br
Em número de passes certos, Dátolo só perde para Rafael
Carioca, que é um volante e, sabidamente, dá passes mais curtos. Ainda assim, a
proporção de passes certos/errados de Dátolo (250/25) é 10, a de Rafael Carioca
(366/38) é 9. Ou seja, muito próximo e melhor. Leandro Donizete (248/21),
também volante, tem 11,8 e Patric (245/17), outro perseguido pela torcida, tem 14.
Isto é, Dátolo e Patric, alvos da torcida, além de Leandro Donizete, têm os
melhores aproveitamentos do time em passes.
Dátolo finaliza menos (7) que os atacantes Lucas Pratto (18)
e Luan (23), mas o mesmo que Guilherme (7) — que, ressalte-se, jogou menos
jogos que Dátolo —, mais que o atacante Carlos (5) e mais que os demais meias
selecionados aqui para análise. Além disso, ele é o líder em faltas recebidas
(19), o que mostra, juntamente com o número de passes, que participa muito do
jogo.
Então, onde estaria a falha de desempenho de Dátolo que
justifica a perseguição da torcida? Um número é bem negativo para Dátolo: a
quantidade de bolas perdidas. Ele perdeu 30 bolas no torneio. É normal que
atacantes percam muita bola, já que muitas vezes estão mais isolados na frente,
sem muitas opções de passe e, nesses casos, tentam o drible. Mas, para um meia,
mesmo um meia-atacante como Dátolo, que normalmente joga centralizado, é um
número péssimo.
Entretanto, Carlos, atacante pelos lados que teve um perfil
bem mais defensivo na Copa Libertadores, perdeu 22 bolas. O jogador que mais
perde bolas no Atlético não é Dátolo. Este número negativo é de Luan, com 49 bolas perdidas, um
verdadeiro xodó da torcida. Então, por que tanta idolatria a Luan e tanta
perseguição a Dátolo? Outros números talvez expliquem.
Desarmes de jogadores do Atlético
Mineiro na Copa Libertadores (jogadores selecionados)
Jogador
|
Desarme certo
|
Desarme errado
|
Luan
|
21
|
2
|
Rafael Carioca
|
20
|
3
|
Leandro Donizete
|
10
|
3
|
Dátolo
|
6
|
2
|
Fonte: www.footstats.net Seleção
de dados: www.esquemastaticos.com.br
Selecionamos alguns jogadores pela função exercida
(volantes) e pelo apoio, ou não, da torcida. Por ele, podemos começar a
entender a idolatria por Luan. Ele, mesmo sendo um meia-atacante pelos lados,
desarma mais que os volantes titulares. Entretanto, um mito da torcida
atleticana cai. É comum que Levir Culpi saque Leandro Donizete dos jogos em que
o Atlético precisa ser mais ofensivo. A torcida e os comentaristas esportivos normalmente
reclamam e não entendem por que, nesses casos, Rafael Carioca não é o escolhido
para sair. Bom, os números dão razão a Levir Culpi. Rafael Carioca desarma duas
vezes mais que Leandro Donizete. O argumento de que joga mais tempo também não
se sustenta. Rafael errou três dos 23 desarmes tentados. Leandro Donizete
também errou três, mas de 13 desarmes.
Uma, digamos, “tese” emerge da análise desses números. Em
geral, a torcida pega no pé de quem perde a bola e idolatra quem desarma corretamente.
Teremos que analisar mais jogadores, mais times e mais torcidas para confirmarmos,
ou não, esta tese. É um caminho para análise.
Analisando os números de Dátolo, fica claro que a torcida
não tem razão em marcar negativamente o meia. Lembrando que o erro contra o
Inter no jogo de volta é posterior à primeira vaia sofrida pelo meia, no jogo
de ida. Então, qual a razão? Ouvindo, lendo e assistindo aos programas esportivos
mineiros, percebe-se uma, digamos, má vontade com Dátolo. Nossa hipótese é
essa: a imprensa mineira envenenou a torcida atleticana contra Dátolo. Estamos
falando de uma percepção equivocada dos comentaristas, baseada em momentos
específicos em que Dátolo errou e ficou marcado por isso.
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